10 de novembro 2016 / Artigos

Memorial Orlando Gomes – Lembranças de um grande jurista

Por Angela Petitinga

Iniciava o ano de 1991, quando recebi um telefonema do amigo e colega Osvaldo Gouveia Ribeiro, no qual me convidou para em parceria montarmos um Memorial que homenageasse e resgatasse o nome do advogado baiano Orlando Gomes.

Neste trabalho, segundo Osvaldo, caberia a mim a elaboração do planejamento, projeto e execução da exposição permanente, enquanto ele ficaria com a documentação, fotos e textos.

Pessoalmente era uma proposta gratificante, profissionalmente era uma honra para mim, afinal, estaria trabalhando a memória de um mito, do mestre das ciências jurídicas, do jurisconsulto renomado, do escritor, do baiano de dimensão internacional, enfim, estaria lidando com uma figura de personalidade marcante e de capacidade unanimemente reconhecida, que como tal, deveria ser retratada nas suas mais variadas facetas, exigindo que na mostra fosse apresentada fielmente sua vida e obra. Grande desafio!

O convite foi aceito de imediato. Além do tema, o trabalho em si me fascinava enquanto técnica, pois desde o início da carreira de museóloga sempre tive uma identificação com montagem de exposições, o que me levou a uma maior especialização nessa área. Trata-se de uma forma didática, esquemática e estética de transmitir uma realidade, por isso mesmo obriga o profissional a um estudo e conhecimento profundos do assunto e uma criatividade quanto ao enfoque a ser dado.

“Arregaçamos as mangas” e começamos a trabalhar. Como não poderia deixar de ser, iniciamos realizando uma ampla pesquisa sobre Orlando Gomes, tarefa na qual fomos bastante ajudados pelos filhos dele, em particular Maurício Gomes. Facilitaram os contatos, franquearam os objetos particulares.

Na tarefa de “garimpar” informações, foi de grande importância também as entrevistas com D. Herbene que, prazerosamente, nos relatou sua convivência e conhecimento desse grande baiano, fornecendo, inclusive, fotos e utensílios que lhe pertenceram. Sua paciência e memória infalível foram fundamentais para o entendimento e organização do acervo.

Havíamos previsto um período maior para a realização das pesquisas, porém os trabalhos se desenvolveram bem mais rápido que o esperado. A explicação é fácil, todas as pessoas que procurávamos, ao tomarem conhecimento do assunto, abriam as portas e nos passavam informações valiosas.

Ao terminar a pesquisa partimos para a concepção da mostra. Com a aprovação da família enfocamos, de forma clara e objetiva, temas principais da vida de Orlando Gomes: o nascimento, a formação profissional, o jurista, a vida literária, a família, os prêmios e as homenagens recebidas.

Como forma de impactar ainda mais os visitantes, concebemos uma ambientação do seu escritório de trabalho que, de tão fiel, emocionou e tem emocionado aqueles que conviveram com ele e, aos outros, tem servido como subsídio para entender um pouco da sua marcante personalidade.

O Memorial hoje é aberto ao público, está situado no bairro da Graça, em Salvador, na sede da Fundação que leva seu nome.

Vou reproduzir uma frase dele que está bem no início do memorial:

“Quando amanhã, passados muitos anos, perguntarem quem foi esse Orlando Gomes e alguém disser: foi um homem de bem, – onde quer que eu esteja, estarei feito e satisfeito. Foi tudo o que eu quis na vida”.

Orlando Gomes, 1909 – 1988