09 de novembro 2016 / Artigos
Cada profissional escolhe um campo onde se identifica mais e a partir daí desenvolve a sua expertise. Desde o curso de graduação que me identifiquei com museografia, a técnica de montar exposições. A professora Jacira Osvald reconheceu essa minha preferência e pude participar de vários projetos dela, aperfeiçoando ainda mais o que tanto gostava.
Depois de formada fui trabalhar no Museu Eugênio Teixeira Leal, no Centro Histórico de Salvador, no Pelourinho, e como dirigia um Departamento de um museu dinâmico, tinha que participar de todas as áreas e éramos bem organizados com setores bem definidos de educação, conservação, museografia, documentação e dinamização.
O Setor Educativo ficou tão forte que em 1995 já tínhamos cadastradas 118 escolas do Estado da Bahia e algumas de Sergipe e Alagoas. Não precisávamos mais, a cada início de ano, escrever a carta aos colégios lembrando que estávamos abrindo a agenda para o PME – Programa Museu Escola. Logo no início do semestre os telefones eram inúmeros e a agenda ia se completando.
Certa vez, recebi uma Assistente Social que me solicitou uma pauta para meninos de rua. Expliquei a ela a nossa programação, relatei que não achava adequado para os alunos dela seguir o roteiro, mas ela disse que estava exatamente falando sobre dinheiro e gostaria que a programação fosse igual.
Fiquei muito feliz e quando chegou próximo à data provoquei uma reunião com a equipe para planejarmos o atendimento. Devemos reconhecer nossas falhas e, dessa vez, recordo o saudoso Dr. Norberto Odebrecht, no seu livro: Armadilhas do Sucesso. Jamais deveríamos usar para meninos de rua a mesma programação do PME diário que contava a história do dinheiro.
Nessa época o museu estava com muitas atividades e confiei à educadora Ana Cláudia Araújo, super competente, que os atendesse e desse conta do recado, como já vinha acontecendo há anos.
Com 15 minutos de programação, entra Ana Cláudia na minha sala, pálida e chorando. Quando perguntei o que aconteceu, ela me relatou que todos os 18 meninos estavam em sono profundo, alguns deles até roncando.
Pedi desculpas, suspendi a reunião, e desci quase que correndo para o auditório. Lá fiquei triste com o que vi, os meninos sentados nas poltronas confortáveis do Museu, luz apagada para que a projeção ficasse numa qualidade melhor e o ar condicionado tinindo. Pedi para acender as luzes, desligar o celular e suspender a projeção.
Comecei perguntando, quem de vocês sabe sambar? Alguns poucos levantaram a mão e eu fiz outra pergunta: quem sabe cantar um samba? Aí a animação já foi melhor. Levantaram, uns cantaram, outros sambaram, colados a mim como se eu fosse o “porto seguro”. Perguntei os nomes de cada um deles, perguntei quem tinha tirado a documentação (RG), pois a Assistente Social tinha me falado, na primeira reunião, que estava tentando que todos fossem tirar o RG, alguns me disseram que já tinham tirado, me mostraram e notei que um deles ficou de cabeça baixa. Cheguei perto e perguntei se ele já tinha regularizado a documentação, ele balançou a cabeça negativamente.
Bom, a programação foi um sucesso, depois do samba paramos para lanchar e todos saíram com um abraço e um beijo meu. Dias depois o recepcionista me interfonou dizendo que um dos meninos estava lá e queria me mostrar uma coisa. Quando fui até ele, lembrei do menino que não tinha ainda o RG e para a minha surpresa ele veio me mostrar que estava documentado e muito feliz.
Tenho certeza que a minha felicidade foi maior!
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